19 de julho de 2021

Tempo de nos aquilombar - Conceição Evaristo

 

Por Conceição Evaristo

 

É tempo de caminhar em fingido silêncio,

e buscar o momento certo do grito,

aparentar fechar um olho evitando o cisco

e abrir escancaradamente o outro.

 

É tempo de fazer os ouvidos moucos

para os vazios lero-leros,

e cuidar dos passos assuntando as vias

ir se vigiando atento, que o buraco é fundo.

 

É tempo de ninguém se soltar de ninguém,

mas olhar fundo na palma aberta

a alma de quem lhe oferece o gesto.

O laçar de mãos não pode ser algema

e sim acertada tática, necessário esquema.

 

É tempo de formar novos quilombos,

em qualquer lugar que estejamos,

e que venham os dias futuros, salve 2021,

a mística quilombola persiste afirmando:

“a liberdade é uma luta constante”.


17 de março de 2021

AS MÃOS LIMPAS. - PEDRO TIERRA

 17 de março de 1973. Brasil. Cidade de S. Paulo. Esquina da Rua Tutóia com Tomás Carvalhal. DOI-CODI do II Exército. Na Cela Forte agoniza Alexandre Vannucchi Leme. Tinha 22 anos. E sonhos que se recusam a morrer.                                       


 AS MÃOS LIMPAS.                    


Sobre a mesa as mãos de um homem:

brancas, limpas, tranquilas.

Mãos de um habitante das cidades.

Por si mesmas não dizem nada.


Acariciam os cabelos do filho,

o rosto da mulher, compram os jornais,

dirigem o automóvel,

estarão suadas ao meio-dia.

Esses afinal, são gestos universais.


Contudo, neste fim de tarde, eu as vejo

exaustas, vazias, manchadas de sangue.

O corpo de Alexandre repousa sem algemas, 

(é pouco mais que um adolescente).

Da boca obstinada não fugiu palavra

e, na morte, seu rosto resplandece.


Daquelas mãos não se dirá:

“Estão marcadas com o sangue dos inocentes”.


Ei-las: lavadas, neutras, polidas cuidadosamente,

prontas a repetir os gestos universais.

Acariciar os cabelos do filho,

o rosto da mulher,


passear pela cidade insuspeitadas.

Ir ao cinema. Levar o cigarro à boca. Confundir-se entre as mãos comuns

dos homens comuns, dessa cidade comum. 


(Pedro Tierra, 1973. Do livro “Poemas do Povo da Noite”)

Shakespeare em Fatias - Ep.02 [A Tempestade] #LeiAldirBlancRN


No ar o segundo episódio do projeto "Shakespeare em Fatias" que começou na semana passada, trazendo videos curtos de artes integradas.
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Pedindo uma licença poética bem DESCARADA ao bardo Will, convidamos vocês a prepararem uma gostosa Moqueca de Peixe dos Naufragados, inspirada em A Tempestade, e que vai ser de matar os seu convidados.... de PRAZER.

Anotes as dicas do renomado chef Próspero, e divirta-se com Ariel e Miranda em mais um exercício que mistura teatro, gastronomia e audiovisual!  Bom apetite!

Roteiro e atuação: Dudu Galvão e Nicoli Dichoff

Imagens: Anderson Trajano e Jean Vernochi

Edição: Nicoli Dichoff

Apoio: @semcebola
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Esse projeto foi realizado com recursos da Lei Aldir Blanc Rio Grande do Norte, Governo do Estado do Rio Grande do Norte, Fundação José Augusto, Secretaria Especial da Cultura, Ministerio do Turismo e Governo Federal

12 de março de 2021

Show Quarteto de Clarinetes de Cruzeta e FAMME Jazz - Combo Feminino - #LeiAldirBlancRN

QUEM É QUEM NO AUDIOVISUAL POTIGUAR | 2a Temporada - EDUCAÇÃO E MEMÓRIA #LeiAldirBlancRN

QUEM É QUEM NO AUDIOVISUAL POTIGUAR | 2a Temporada - MOSTRAS E FESTIVAIS... #LeiAldirBlancRN

Cultura Imaterial - Família Fogueteiro

Afirmações e perguntas sobre a História (Episódios da História do Rio Gr...

A Provincia Moderna (Natal, 1900-1930)