Ministério da Cultura
Representação Regional Nordeste
Convite
O Ministério da Cultura (MinC), através da Secretaria de Cidadania Cultural e da Representação Regional Nordeste, e a Fundação Parnamirim de Cultura convidam para a Oficina de Orientação sobre o Prêmio Agente Jovem de Cultura, que irá acontecer neste sábado, 31 de março, às 14h, no Centro Pastoral João Correia de Aquino, localizado à Av. Castor Vieira Regis, 286, Cohabinal, Parnamirim, Rio Grande do Norte (RN).
Para participar, não é necessária a inscrição prévia.
Informações:
Fundação Parnamirim de Cultura - (84) 3644-8336 / 3644-8337 – Contactar Véssio Lisboa ou Haroldo Gomes.
Representação Regional Nordeste do MinC: (81) 3117-8459 / 3117-8460 / 3117-8439.
31 de março de 2012
29 de março de 2012
28 de março de 2012
25 de março de 2012
A cultura é a alma de um povo -CACÁ DIEGUES
A cultura é a alma de um povo -CACÁ DIEGUES
O GLOBO - 24/03/12
Vira e mexe, a ministra Ana de Hollanda é atacada pelos jornais, através de artigos e manifestos, como uma Geni da cultura. Esta semana, texto subscrito por professores universitários, no jornal "O Estado de S. Paulo", e entrevista do ex-ministro Juca Ferreira, na "Folha de S.Paulo", pareciam petardos sincronizados, como numa campanha bélica bem tramada.
Não sou especialista em administração pública. Mas conhecendo a ministra e acompanhando de longe sua ação à frente do ministério, me estarreço com a violência praticada contra ela. Chego a pensar que não estamos acostumados à política exercida com discrição e serenidade, gostamos da tradição dos berros e dos murros na mesa, confundimos delicadeza com fragilidade.
São tão tortuosos e pouco sólidos os rumos desses desaforos, tão clara sua voracidade política, que seria mais simples se os agressores declarassem logo: "É que não vamos com a cara dela."
Juca Ferreira, o ministro do projeto autoritário da Ancinav, não esconde contra o que se bate: "Num estado com pouco controle social como o Brasil, você diz e faz o que quiser", declara em tom de lamentação, sobre algo que devia nos orgulhar. Antes dele, os professores liderados por Marilena Chauí listam várias expressões acadêmicas que gostariam de ouvir vindas do MinC e exigem dele uma participação criativa que não lhe cabe ousar ter. O velho e místico sebastianismo brasileiro ainda pensa que é o estado que produz e deve produzir cultura.
Ora, para os que já se esqueceram dele, lembro trechinho do belo discurso de posse da presidente Dilma Rousseff: "A cultura é a alma de um povo, essência de sua identidade. Vamos investir em cultura, ampliando a produção e o consumo em todas as regiões de nossos bens culturais." E então fui me informar do que anda fazendo o MinC de Ana de Hollanda para atender a esse programa anunciado pela presidente. Aqui transmito algumas respostas ouvidas por mim.
Em 2011, o MinC não só conseguiu dar conta de um enorme passivo de compromissos que ficaram a descoberto em 2010, como alcançou uma execução recorde de 98,98% dos limites autorizados para empenho. Isso significou R$1,069 bilhão em investimentos diretos, o maior número já alcançado pelo Ministério no que se refere ao efetivamente investido.
Ao contrário do que se tem dito, o orçamento do MinC, na gestão da presidente Dilma, é maior e mais realista do que o de gestões anteriores. O total de investimentos é de R$1,24 bilhão. Somando-se a isso os R$400 milhões a serem incorporados através do Fundo Setorial do Audiovisual, chega-se a R$1,64 bilhão, um recorde sem precedentes na pasta. E não se computa aqui o investimento indireto através das leis de incentivo, como a Rouanet.
E para onde têm ido esses recursos?
Os Pontos de Cultura encontravam-se sem pagamento desde o mês de março de 2010. Na atual gestão, o MinC já pagou cerca de R$100 milhões. O crescimento do orçamento do Programa Cultura Viva tem permitido a criação de novos Pontos de Cultura, o revolucionário projeto inaugurado por Gilberto Gil. Em 2010 o investimento nos Pontos de Cultura era de R$50 milhões. Em 2011, o primeiro ano da gestão atual, foram empenhados R$62 milhões e em 2012 esse valor saltou para R$114 milhões.
Em fevereiro deste ano, a ministra aprovou, junto à presidência, uma lista de programas prioritários que já estão em execução: o Brasil Criativo, que visa a ampliar as possibilidades de emprego e renda, a partir do potencial criativo; o Mais Cultura & Mais Educação, em parceria com o Ministério da Educação, para investir em cultura nas escolas; o PAC das Cidades Históricas, atuando em 125 cidades que possuem sítios históricos ou bens tombados; o de Praças dos Esportes e da Cultura, na periferia de 345 cidades, para construção de parques esportivos, bibliotecas, salas de espetáculo, cineclubes.
O ministério está investindo no processo de implantação do Sistema Nacional de Cultura, que pulou de 337 municípios e um estado integrados até 2010, para 782 municípios e 17 estados hoje. Na área do audiovisual, a aprovação recente da lei 12.485 vai permitir a presença do produto nacional independente nas televisões por assinatura e o crescimento dos recursos do Fundo Setorial. Um instrumento de remissão do cinema brasileiro.
Além disso, o MinC, com o apoio da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Cultura, se empenha na aprovação, pelo Congresso, de leis como as do Vale Cultura, do Procultura e sobretudo da revisão dos Direitos Autorais. Sou internauta e sei que não é mais possível nem desejável recolher esses direitos como se fazia no passado. Mas também não estou disposto a entregar o que sai de minha cabeça ao Creative Commons, um projeto de marketing de empresa esperta.
Foi isso o que me contaram e eu ouvi do MinC. Se alguém não concorda, que apure e se manifeste. Não precisa trucidar quem está do outro lado.
Chico Anysio foi e será sempre o Rei da Comédia, como Pelé é do futebol e Roberto Carlos da canção popular. Aqui, o clichê é exato e irresistível: o mundo vai ficar mais triste sem ele.
O GLOBO - 24/03/12
Vira e mexe, a ministra Ana de Hollanda é atacada pelos jornais, através de artigos e manifestos, como uma Geni da cultura. Esta semana, texto subscrito por professores universitários, no jornal "O Estado de S. Paulo", e entrevista do ex-ministro Juca Ferreira, na "Folha de S.Paulo", pareciam petardos sincronizados, como numa campanha bélica bem tramada.
Não sou especialista em administração pública. Mas conhecendo a ministra e acompanhando de longe sua ação à frente do ministério, me estarreço com a violência praticada contra ela. Chego a pensar que não estamos acostumados à política exercida com discrição e serenidade, gostamos da tradição dos berros e dos murros na mesa, confundimos delicadeza com fragilidade.
São tão tortuosos e pouco sólidos os rumos desses desaforos, tão clara sua voracidade política, que seria mais simples se os agressores declarassem logo: "É que não vamos com a cara dela."
Juca Ferreira, o ministro do projeto autoritário da Ancinav, não esconde contra o que se bate: "Num estado com pouco controle social como o Brasil, você diz e faz o que quiser", declara em tom de lamentação, sobre algo que devia nos orgulhar. Antes dele, os professores liderados por Marilena Chauí listam várias expressões acadêmicas que gostariam de ouvir vindas do MinC e exigem dele uma participação criativa que não lhe cabe ousar ter. O velho e místico sebastianismo brasileiro ainda pensa que é o estado que produz e deve produzir cultura.
Ora, para os que já se esqueceram dele, lembro trechinho do belo discurso de posse da presidente Dilma Rousseff: "A cultura é a alma de um povo, essência de sua identidade. Vamos investir em cultura, ampliando a produção e o consumo em todas as regiões de nossos bens culturais." E então fui me informar do que anda fazendo o MinC de Ana de Hollanda para atender a esse programa anunciado pela presidente. Aqui transmito algumas respostas ouvidas por mim.
Em 2011, o MinC não só conseguiu dar conta de um enorme passivo de compromissos que ficaram a descoberto em 2010, como alcançou uma execução recorde de 98,98% dos limites autorizados para empenho. Isso significou R$1,069 bilhão em investimentos diretos, o maior número já alcançado pelo Ministério no que se refere ao efetivamente investido.
Ao contrário do que se tem dito, o orçamento do MinC, na gestão da presidente Dilma, é maior e mais realista do que o de gestões anteriores. O total de investimentos é de R$1,24 bilhão. Somando-se a isso os R$400 milhões a serem incorporados através do Fundo Setorial do Audiovisual, chega-se a R$1,64 bilhão, um recorde sem precedentes na pasta. E não se computa aqui o investimento indireto através das leis de incentivo, como a Rouanet.
E para onde têm ido esses recursos?
Os Pontos de Cultura encontravam-se sem pagamento desde o mês de março de 2010. Na atual gestão, o MinC já pagou cerca de R$100 milhões. O crescimento do orçamento do Programa Cultura Viva tem permitido a criação de novos Pontos de Cultura, o revolucionário projeto inaugurado por Gilberto Gil. Em 2010 o investimento nos Pontos de Cultura era de R$50 milhões. Em 2011, o primeiro ano da gestão atual, foram empenhados R$62 milhões e em 2012 esse valor saltou para R$114 milhões.
Em fevereiro deste ano, a ministra aprovou, junto à presidência, uma lista de programas prioritários que já estão em execução: o Brasil Criativo, que visa a ampliar as possibilidades de emprego e renda, a partir do potencial criativo; o Mais Cultura & Mais Educação, em parceria com o Ministério da Educação, para investir em cultura nas escolas; o PAC das Cidades Históricas, atuando em 125 cidades que possuem sítios históricos ou bens tombados; o de Praças dos Esportes e da Cultura, na periferia de 345 cidades, para construção de parques esportivos, bibliotecas, salas de espetáculo, cineclubes.
O ministério está investindo no processo de implantação do Sistema Nacional de Cultura, que pulou de 337 municípios e um estado integrados até 2010, para 782 municípios e 17 estados hoje. Na área do audiovisual, a aprovação recente da lei 12.485 vai permitir a presença do produto nacional independente nas televisões por assinatura e o crescimento dos recursos do Fundo Setorial. Um instrumento de remissão do cinema brasileiro.
Além disso, o MinC, com o apoio da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Cultura, se empenha na aprovação, pelo Congresso, de leis como as do Vale Cultura, do Procultura e sobretudo da revisão dos Direitos Autorais. Sou internauta e sei que não é mais possível nem desejável recolher esses direitos como se fazia no passado. Mas também não estou disposto a entregar o que sai de minha cabeça ao Creative Commons, um projeto de marketing de empresa esperta.
Foi isso o que me contaram e eu ouvi do MinC. Se alguém não concorda, que apure e se manifeste. Não precisa trucidar quem está do outro lado.
Chico Anysio foi e será sempre o Rei da Comédia, como Pelé é do futebol e Roberto Carlos da canção popular. Aqui, o clichê é exato e irresistível: o mundo vai ficar mais triste sem ele.
24 de março de 2012
23 de março de 2012
Atestado de óbito
RAFAEL DUARTE
▶ rafaelduarte@novojornal.jor.br
A opinião pública subverteu a lógica nos últimos dias. Na morte do ladrão de carros Julianderson da Silva, as reações do povo chocaram mais que o próprio homicídio. Falo, obviamente, do caso em que o médico Onofre Lopes Júnior mandou bala no sujeito que tentou assaltá-lo, em Lagoa Nova.
Independente do que a Justiça decidir, ninguém há de negar que o que aconteceu, naquela tarde, foi um homicídio. Um homem matou outro. Simples assim. Se foi em legítima defesa cabe ao juiz decidir lá na frente, desde que o delegado não arquive o processo agora. Uma decisão complicada diante da atmosfera que se criou. Mas que deveria se basear apenas nos depoimentos de quem puxou o gatilho oito vezes e das testemunhas que assistiram tudo.
Depois desse caso, este repórter que já andava assustado com o ser humano passou a ter medo. O que li nos jornais e nas redes sociais de sexta-feira para cá tem reforçado um sentimento estranho. Onofre foi alçado à condição de herói porque, segundo o senso-comum, mandou para o quinto dos infernos um bandido que não passa de um Zé Ninguém fodido, um pária da escória da sociedade. Julianderson tinha 30 anos e virou o vilão da novela das 8 que morre no final porque ‘teve o destino que mereceu’.
No afã de justificar o apedrejamento do bandido que virou defunto o Estado foi eleito o co-autor do homicídio. O mais trágico da história, no entanto, é perceber que para os guardiões da moral e dos bons costumes da classe média a culpa do Estado não é pela má formação do sujeito que se tornou bandido. Eles condenam o poder público por falta de competência para manter essa gente presa e longe do tal cidadão de bem.
O episódio que envolveu o médico e o assaltante revela uma realidade cruel. Se a gente parar para pensar um pouco vai ver que, na verdade, não é no Estado que as pessoas não acreditam mais. Esse discursozinho hipócrita de falta de segurança é balela, tudo da boca para fora. O homem não acredita mais é no ser humano. Triste, mas é isso.
Para a opinião pública desse caso, se Julianderson optou pelo crime, se escolheu o errado em vez do certo, que pague com a vida. É a lógica do extermínio: se o governo não tem como mantê-lo longe de nós, então que morra.
Dois dias depois do homício, o Fantástico mostrou uma reportagem espetacular sobre o modus operandi das fraudes em licitações no país. As gravações de empresários ensinando como se faz para roubar dinheiro público chocaram quem viu a matéria. Caso fosse adiante, as licitações forjadas renderiam às quatro empresas citadas algo em torno de R$ 500 milhões somente de um hospital universitário no Rio de Janeiro.
Durante a exibição da reportagem, fiquei com um olho na TV e outro no computador para ver as reações do povo. Quanta diferença. Ninguém chamou o doutor Onofre para nos defender.
▶ rafaelduarte@novojornal.jor.br
A opinião pública subverteu a lógica nos últimos dias. Na morte do ladrão de carros Julianderson da Silva, as reações do povo chocaram mais que o próprio homicídio. Falo, obviamente, do caso em que o médico Onofre Lopes Júnior mandou bala no sujeito que tentou assaltá-lo, em Lagoa Nova.
Independente do que a Justiça decidir, ninguém há de negar que o que aconteceu, naquela tarde, foi um homicídio. Um homem matou outro. Simples assim. Se foi em legítima defesa cabe ao juiz decidir lá na frente, desde que o delegado não arquive o processo agora. Uma decisão complicada diante da atmosfera que se criou. Mas que deveria se basear apenas nos depoimentos de quem puxou o gatilho oito vezes e das testemunhas que assistiram tudo.
Depois desse caso, este repórter que já andava assustado com o ser humano passou a ter medo. O que li nos jornais e nas redes sociais de sexta-feira para cá tem reforçado um sentimento estranho. Onofre foi alçado à condição de herói porque, segundo o senso-comum, mandou para o quinto dos infernos um bandido que não passa de um Zé Ninguém fodido, um pária da escória da sociedade. Julianderson tinha 30 anos e virou o vilão da novela das 8 que morre no final porque ‘teve o destino que mereceu’.
No afã de justificar o apedrejamento do bandido que virou defunto o Estado foi eleito o co-autor do homicídio. O mais trágico da história, no entanto, é perceber que para os guardiões da moral e dos bons costumes da classe média a culpa do Estado não é pela má formação do sujeito que se tornou bandido. Eles condenam o poder público por falta de competência para manter essa gente presa e longe do tal cidadão de bem.
O episódio que envolveu o médico e o assaltante revela uma realidade cruel. Se a gente parar para pensar um pouco vai ver que, na verdade, não é no Estado que as pessoas não acreditam mais. Esse discursozinho hipócrita de falta de segurança é balela, tudo da boca para fora. O homem não acredita mais é no ser humano. Triste, mas é isso.
Para a opinião pública desse caso, se Julianderson optou pelo crime, se escolheu o errado em vez do certo, que pague com a vida. É a lógica do extermínio: se o governo não tem como mantê-lo longe de nós, então que morra.
Dois dias depois do homício, o Fantástico mostrou uma reportagem espetacular sobre o modus operandi das fraudes em licitações no país. As gravações de empresários ensinando como se faz para roubar dinheiro público chocaram quem viu a matéria. Caso fosse adiante, as licitações forjadas renderiam às quatro empresas citadas algo em torno de R$ 500 milhões somente de um hospital universitário no Rio de Janeiro.
Durante a exibição da reportagem, fiquei com um olho na TV e outro no computador para ver as reações do povo. Quanta diferença. Ninguém chamou o doutor Onofre para nos defender.
O paredão sonoro
O paredão sonoro
Bráulio Tavares
O poeta Jessier Quirino desencadeou um movimento, na cidade de Itabaiana, em defesa do carnaval pacífico da população, ameaçado por uma prática tenebrosa do mundo de hoje: a invasão das ruas, das praças e das praias por carros munidos de gigantescas e ensurdecedoras aparelhagens de som. Segundo Jessier, os responsáveis por essa calamidade estacionam os carros, colocam seus “paredões” um ao lado do outro e fazem uma disputa pra ver quem consegue tocar música num volume mais alto. Não é preciso dizer que qualquer bloco ou troça carnavalesca não consegue ser ouvida (ou ouvir a si própria) se estiver no raio de algumas centenas de metros desse apocalipse sonoro. Resultado: ninguém na cidade brinca mais carnaval, somente uma dúzia de donos de “paredões”, que se instalam no centro da cidade, e produzem um tsunami de decibéis de tal ordem que algumas casas de Itabaiana tiveram suas paredes rachadas.
Isso não passa do crescimento de uma tendência que há muitos anos vem incomodando a Paraíba. (Incomoda o Brasil inteiro, mas fiquemos por enquanto no nosso raio de escuta.) Qualquer sujeito que tem dinheiro para comprar um carro e enchê-lo dos altofalantes mais potentes do mercado considera tão importante essa façanha que a cidade inteira precisa tomar conhecimento dela. Em João Pessoa estou cansado de ver, no calçadão da praia, o carro estacionado no meio-fio, todas as portas abertas, a tampa da mala levantada, o som bradando num volume insuportável, e o cara sentado na mureta, tomando cerveja sozinho e olhando pro carro. Não existe imagem mais patética da solidão urbana.
Claro que não são somente os solitários. Tem os folgados que andam de turma. Encostam o carro num bar cheio de pessoas conversando, escancaram as portas do carro, ligam o som em todo volume. Sentam os 4 ou 5 numa mesa, pedem duas águas e um prato de tiragosto. Trazem do carro um isopor cheio de latas de cerveja bem geladas e ficam ali, bebendo e ouvindo Chico Buarque ou Mozart em todo volume. E ai de quem for pedir para que eles abaixem o volume. Na melhor das hipóteses, ouve um “Você sabe de quem eu sou filho?”. Na pior, leva uma camada de pau.
Aliás, não é Chico Buarque nem Mozart que esse pessoal escuta, mas, mesmo que fosse, a grosseria e a estupidez seriam as mesmas. A poluição sonora produzida por esse pessoal (e juntem a eles os insuportáveis carros-de-som de propaganda, que fazem o que querem) é o indício de uma época em que manda quem tem dinheiro e truculência. No século 20 temia-se que as hordas selvagens (os pobres da periferia) destruíssem a sociedade. No século 21, as hordas são de ricos; o mundo será destruído de cima para baixo..
Bráulio Tavares
O poeta Jessier Quirino desencadeou um movimento, na cidade de Itabaiana, em defesa do carnaval pacífico da população, ameaçado por uma prática tenebrosa do mundo de hoje: a invasão das ruas, das praças e das praias por carros munidos de gigantescas e ensurdecedoras aparelhagens de som. Segundo Jessier, os responsáveis por essa calamidade estacionam os carros, colocam seus “paredões” um ao lado do outro e fazem uma disputa pra ver quem consegue tocar música num volume mais alto. Não é preciso dizer que qualquer bloco ou troça carnavalesca não consegue ser ouvida (ou ouvir a si própria) se estiver no raio de algumas centenas de metros desse apocalipse sonoro. Resultado: ninguém na cidade brinca mais carnaval, somente uma dúzia de donos de “paredões”, que se instalam no centro da cidade, e produzem um tsunami de decibéis de tal ordem que algumas casas de Itabaiana tiveram suas paredes rachadas.
Isso não passa do crescimento de uma tendência que há muitos anos vem incomodando a Paraíba. (Incomoda o Brasil inteiro, mas fiquemos por enquanto no nosso raio de escuta.) Qualquer sujeito que tem dinheiro para comprar um carro e enchê-lo dos altofalantes mais potentes do mercado considera tão importante essa façanha que a cidade inteira precisa tomar conhecimento dela. Em João Pessoa estou cansado de ver, no calçadão da praia, o carro estacionado no meio-fio, todas as portas abertas, a tampa da mala levantada, o som bradando num volume insuportável, e o cara sentado na mureta, tomando cerveja sozinho e olhando pro carro. Não existe imagem mais patética da solidão urbana.
Claro que não são somente os solitários. Tem os folgados que andam de turma. Encostam o carro num bar cheio de pessoas conversando, escancaram as portas do carro, ligam o som em todo volume. Sentam os 4 ou 5 numa mesa, pedem duas águas e um prato de tiragosto. Trazem do carro um isopor cheio de latas de cerveja bem geladas e ficam ali, bebendo e ouvindo Chico Buarque ou Mozart em todo volume. E ai de quem for pedir para que eles abaixem o volume. Na melhor das hipóteses, ouve um “Você sabe de quem eu sou filho?”. Na pior, leva uma camada de pau.
Aliás, não é Chico Buarque nem Mozart que esse pessoal escuta, mas, mesmo que fosse, a grosseria e a estupidez seriam as mesmas. A poluição sonora produzida por esse pessoal (e juntem a eles os insuportáveis carros-de-som de propaganda, que fazem o que querem) é o indício de uma época em que manda quem tem dinheiro e truculência. No século 20 temia-se que as hordas selvagens (os pobres da periferia) destruíssem a sociedade. No século 21, as hordas são de ricos; o mundo será destruído de cima para baixo..
3 de março de 2012
Apresentação #BLOGPRORN
SINIIC
http://prezi.com/8ahs0etokym5/sniic-dados-abertos-e-participacao-cidada/
Direitos Autorais e Direitos Intelectuais
http://prezi.com/8ahs0etokym5/sniic-dados-abertos-e-participacao-cidada/
Direitos Autorais e Direitos Intelectuais
Assinar:
Postagens (Atom)