MUSICA POTIGUAR – UM BREVE RELATO
Zé Dias
No começo do século passado, a música brasileira em fase de formação recebeu o talento do macauense NOZINHO, que com seu canto e ao lado de BAHIANO, tornaram-se cantores hegemônicos daquela época. Em meados dos anos 20, compondo o Bando de Tangarás, com Almirante, Braguinha, Noel Rosa e Alvinho, o violonista POTIGUAR, Henrique de Brito, sinalizava com seu belo violão, a presença efetiva da música instrumental potiguar no cenário musical brasileiro. Segundo Braguinha em depoimento a Tv Manchete, Henrique em 1932, nos EEUU, influenciado pelo cinema falado, criou o violão elétrico. Ainda nos anos vinte, quando da visita do escritor MODERNISTA, PAULISTA, Mário de Andrade ao nosso estado, o canto e o ritmo de Chico Antônio, emocionou um dos criadores da Semana de Arte Moderna, e a partir dali, mesmo de forma incipiente, o Coco tornou-se o nosso principal ritmo e Chico Antonio seu principal expoente. Com a definição da MPB em seus vários ritmos, o Rio Grande do Norte emprestou ao Cancioneiro Brasileiro o talento de Uriel Lourival para a VALSA, Ademilde Fonseca e K-Ximbinho para o CHORO, Raimundo Olavo para o SAMBA e o Trio Irakitan para a música Romantica latino americana, que aqui começava a permear. Num cenário bem local, Glorinha Oliveira, Chico Eliont, Paulo Tito, Zé Alves, Haroldo de Almeida, Felinto Lúcio, e Tonheca Dantas, além de diversos grupos vocais, davam as cartas de nossa música, com uma ou outra incursão nacional, como Eliont ser gravado por Gonzaga (Ranchinho de Paia) e Paulo Tito ser cantado por Elis Regina (Samba Feito Pra Mim e Vou Comprar um Coração) tendo Paulo e Haroldo tentado a noite carioca, numa época de grande concorrência entre maravilhosos interpretes.
Com a necessidade de mudanças estéticas que se impunha a música brasileira, em 1952, antenado com os sons emitidos pela música americana, país hegemônico no planeta, o Macauense Hianto de Almeida, empresta seu talento ao jovem baiano JOÃO GILBERTO e com seu Samba Canção Meia Luz, sinaliza, mesmo que de forma tímida, para uma Bossa Nova que viria a surgir em 1958 com Elizeth Cardoso em CANÇÃO DO AMOR DEMAIS e confirmada em 1959, com o disco CHEGA DE SAUDADE. Cantores como Orlando Silva, Cauby Peixoto, Ciro Monteiro, Lucio Alves, Miltinho, , Ivon Cury, Roberto Paiva, Anisio Silva e Pery Ribeiro, referendavam o jovem potiguar, além dos grupos vocais Anjos do Inferno, Trio Irakitan, Os Cariocas, Trio Maraya e o Tamba Trio, sendo também bem recebido pelas divas Dalva de Oliveira, Elizeth Cardoso, Dircinha Batista, Doris Monteiro, Isaura Garcia, Marlene, Angela Maria, Maysa, Ellen de Lima, Elza Soares, Leny Andrade e Nana Caymmi. Por ter acordes modernos, Cesar Camargo Mariano, Romero Lubambo, Paulo Moura, Chiquinho do Acordeon, K-Ximbinho, Raul de Barros, Manoel da Conceição e Waldir Calmon, também beberam na musicalidade do macauense Hianto de Almeida. No caminho da Macau de Hianto e da Taipu de K-ximbinho, mais precisamente em Carnaubais, surgia para música brasileira nos anos 60, o talento de Núbia Lafayeete, uma das divas da canção Romântica do Brasil. No inicio dos anos 60, e já no fim da hegemonia de Gonzaga e Jackson, surgem de Pedro Velho, Aldair Soares (O Pau de Arara) gravado entre outros por Clara Nunes e de Timbauba do Batista, Elino Julião, sem perder de vista o Caicoense Severino Ramos, que ligado a música nordestina, foi nosso compositor mais gravado, tendo sua obra sido celebrada por Gonzaga, Jackson, Trio Nordestino, Elba Ramalho, Marinês, Jorge de Altinho e Ney Matogrosso, entre outros.
O Brasil mais uma vez se modernizava na canção popular e o Trio Maraya emprestava seu canto a obra de Geraldo Vandré para juntos a Jair Rodrigues, arrebatar a nação com os acordes de DISPARADA. Ninguém é de ferro para ficar sentado com a Jovem Guarda e Leno colocava os jovens da época para dançar, além de produzir os primeiros discos do jovem Raul Seixas, ícone do Rock Nacional, ao lado dos Mutantes, Rita Lee e tantos outros “REBELDES” dos anos 60. Ainda em meados dos anos 60, época dos Festivais, o maestro MARIO TAVARES regia parte da festa que assolou a música brasileira, enquanto em Natal, Napoleão Paiva, Roberto Lima, Nelson Freire, Daillor Varela, Lola, Fon, entre outros, se antenam com os sons do Tropicalismo e dos Festivais, todos tendo como musa a cantora Odaires. Censurada e manipulada pelos meios de comunicação, a canção popular do Brasil toma novos rumos e Nazareno Vieira ao lado de Pena Branca cantam com o Brasil (Vai Doer) seu irmão Gilson empresta a vários cantores (Casinha Branca e Verdade Chinesa) Giliard canta Aquela Nuvem e Carlos Alexandre empolga com o Hit Ciganinha. Nos anos 70 com a leva de nordestinos ao sul do país, Terezinha de Jesus, Mirabô e o grupo Flor de Cactus se unem a Fagner, Belchior, Ednardo, Alceu Valença, Quinteto Violado, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho e Elba Ramalho, consolidando as novas portas que se abriram com o som bem brasileiro dos Novos Baianos. Nem tudo no nordeste se resumia a Gonzaga e Jackson, mas todos os sons dos nordestinos, passavam por eles. Se a canção nordestina se modernizava, o Macauense Antônio José Madureira e seu irmão Antulio, sinalizavam seus talentos com o movimento armorial de Pernambuco.
No final dos anos 70 e inicio dos anos 80, Tico da Costa, Pedro Mendes, Edmar Costa, Romildo Soares, Sueldo Soares, Cida Lobo, Valéria Oliveira, Cleudo Freire, Wigder Vale, Manasses Campos, Babal, Lucinha Lira, Rachell Groismman e Silvana Martins, segurama a onda potiguar, regidos por músicos como Manoca Barreto, Roberto Taufic e Franklin Nogvaes, todos que bebiam na fonte de Joca Costa, Expedito e João de Orestes. Com o advento do Projeto Seis e Meia em 1995, Galvão Filho, Geraldo Carvvalho, Lane Cardoso, Carlos Zens e Isaque Galvão semeiam a estrada hoje percorrida por Khrystal, Simona Talma, Lis Rosa, Lene Macedo, Andrezza Costa, Rosa de Pedra e Tania Soares, que já dão sinais de uma música com mais profissionalismo e sabedoras que existem um mercado a ser vencido. Com uma cena de Rock visível, bem comanda por Jomard e Anderson Foca e uma música instrumental com visibilidade nacional que tem como expoentes Sergio Groove, Jubileu Filho, Eduardo Taufic, Diogo Guanabara, Junior Primata além do Paraibano Antonio de Padua e o Pernambucano Gilberto Cabral, ambos radicados em Natal, podemos afirmar que de alguma forma, contribuímos para que hoje em dia, ao sentarmos numa mesa para conversar sobre música brasileira, termos argumentos para dizer que nós potiuguares existimos desde o começo do século passado. A presença de Roberta Sá, mesmo sem uma participação inserida em quaisquer dos quadros citados acima e Marina Elali, fruto da geração do Seis e Meia, na mídia nacional, indica que poderemos chegar bem mais no mundo da música produzida no Brasil, e as carreiras nacionais, mesmo que tímidas, de Valéria Oliveira, Khrystal, Carlos Zens,Galvão Filho, Rosa de Pedra e Isaque Galvão, sinalizam para uma música potiguar mais respeitada no país.
José Dias Junior
Um comentário:
"Breve relato"... diria que, a bem da verdade, um ótimo relato sobre toda história de nossa música. Estamos lendo bem tarde em relação a data postada, mas deixamos os parabéns ao relato, pois está sufientemente completo para que qualquer potiguar possa iniciar uma pesquisa sobre sua cultura, o que na verdade, acreditamos ser o que falta para nossos artístas serem ainda mais reconhecidos, falta um "potiguarismo" do nosso povo, curiosidade para conhecer e consumir nossos frutos que estão aí para fortalecer nossa identidade.
Parabéns!!!
João Paulo e Julyana Moreno
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