Hoje, logo cedo, lá estava eu regando flores. Não, não era aguando as minhas poucas roseiras que resistem à fúria das formigas de meu pequeno e quase abandonado jardim.
Essas flores são, na verdade, sementes. Sementes de música, pra ser mais preciso. É que fui visitar a Ilha de Música, um projeto plantado num barracão amarelo ali na Av. Dr. João Medeiros Filho, 2372, na comunidade da África, no bairro da Redinha.
Iniciativa do trombonista e maestro Gilberto Cabral e de sua companheira e pianista Inês Latorraca. O Ilha é um projeto que acolhe cerca de 30 crianças e adolescente e lhes ensinam a descobrir os caminhos da música, da cidadania e da solidariedade.
Depois de quase 3 anos de trabalho eles começam a colher os primeiros frutos, digo flores. Com a ajuda de outros músicos, todos voluntários, aquelas crianças e adolescentes aprendem música de melhor qualidade. O único requisito é que estejam matriculados e frequentando alguma uma escola.
Recebido por Inês à porta do barracão, não foi pequena a emoção de ver e ouvir aquelas crianças tocando flautas, guitarras, baixo, percussões, baterias…
Emoção grande mesmo foi ouví-las cantar “Reggando Flores”, uma canção de Gilberto Cabral a Yrahn Barreto.
A importância do projeto para as crianças e suas famílias está resumida na cena que presenciei ao chegar. Á porta do barracão, enquanto eu conversava com Inês, aproxima-se uma mulher e diz que Vagner não pode vir hoje pra aula. “Ele tá com o pé machucado, deu íngua e ele num pode andar. Ficou em casa chorando, pedindo pra eu trazê-lo de bicicleta. Mas eu não trouxe pra num piorar o pé”.
Quando terminou a apresentação, a mãe de Clara, 8 anos, me apresenta à menina. Vai ser uma pianista, me fala toda convicta e orgulhosa.
Saí dali com os versos de Reggando Flores amaciando alma:“ quem um dia aqui passou/ não esquece jamais/ aquela sutil canção.
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tosco, leve, raro, amável, doce, simples/ paz, amor e alto astral/ tosco, leve, raro, amável, doce, simples/ muito além do normal”
Fernando Mineiro
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