16 de junho de 2019

Redinha, Ponta Negra, Pititinga,Genipabu,Açu e Touros já tiveram Fortes

Texto enviado pelo historiador Adler de Castro, especialista em fortificações brasileiras:


Fortim da Ponta Negra

Ponta Negra é uma pequena enseada, um pouco abrigada dos ventos, e que podia ser usada para um desembarque – foi o que fizeram os holandeses em 1633, quando atacaram o forte dos Reis Magos (ver).[1] Em 1808, o governo do Rio Grande do Norte, considerando a Ponta Negra “um dos melhores desembarcadouros” [2] da capitania, sugeriu a construção de um reduto ou bateria aberta, “colocando-se ali nove ou doze canhões de calibre doze ou dezoito, com um comandante e guarnição competente”.[3] Mas, aparentemente, nada foi feito até cinco anos depois, quando o governador construiu “um forte de faxina revestido de pedra, para nele laborarem 4 peças”.[4]
Esta fortificação continuou a existir por mais alguns anos, aparecendo como “reduto da Ponta Negra” na relação de fortes do Império de 1829, quando estava equipada com um canhão,[5] mas foi desarmada com a Regência. Ainda aparece citada no relatório do ministro da Guerra de 1846 e na relação de artilharia dos fortes, feita no contexto da Questão Christie, em 1863 é listada sem artilharia e como “não tendo importância”, o relatório de 1846 adicionado que tinha sido abandonada por seu mal estado.[6]

Forte da Redinha

Obra feita de faxina revestida de pedra em 1808, na margem norte do rio Potengi, no bairro da Redinha,[7] para cruzar fogos com o forte dos Reis Magos (ver). Como a barra já era defendida pelo forte maior, deve ter tido uma história muito curta, já não sendo citado na relação de fortes de 1829.[8]
Figura 13 – Mapa das fortificações do Rio Grande do Norte no início do século XIX.
FAZER

Forte de Genipabu

Conjunto composto de um forte e trincheira construídos em 1808 pelo governador do Rio Grande do Norte, na ponta de Genipabu, um pouco ao norte de Natal; a documentação de época deixa a entender que era uma obra improvisada, levantada “pelo modo que as circunstâncias o permitiam”.[9] Em 1829, ainda era listada como estando armada com um canhão,[10] devendo ter sido abandonada com a Regência, dois anos depois, não sendo mais citada em outros documentos do Império, apesar de, curiosamente, Garrido dizer que ainda havia vestígios do forte em 1940, com dois canhões no local.[11]

Fortim de Pititinga

A enseada de Petitinga ou Pititinga é um pequeno ancoradouro, situado a cerca de cinqüenta quilômetros ao norte de Natal, que fornece certo abrigo para embarcações, a Memória relativa à defesa do Rio Grande do Norte, de 1808, aponta que lá “continuamente vão parar embarcações estrangeiras, que acossadas pelo tempo procuram abrigar-se”,[12] mencionando em seguida que foi feito um forte improvisado no local, “da forma que foi possível”.[13] Em 1829, aparece como estando armado com dois canhões,[14] mas foi abandonado com a Regência, dois anos depois, desaparecendo nos anos seguintes, a última informação que localizamos sobre o fortim é de 1874, quando “duas peças de calibre 9, as quais jaziam há muito tempo na praia da ‘Pititinga’”,[15] foram enviadas para o forte dos Reis Magos.

Bateria de Porto dos Touros

Obra feita em uma enseada, com uma certa proteção para os navios que chegavam na costa a cerca de setenta quilômetros ao norte de Natal, no início do século XIX mas, ao contrário do que coloca Fausto de Souza,[16] não é mencionada entre os fortes feitos na capitania em 1808,[17] aparecendo em uma lista de fortes do Império, de 1829, com a indicação de que era armada com seis canhões.[18] Esta última data nos leva a supor que foi feita depois de 1818, quando corsários atuavam na área, ou na época da Guerra da Independência, por causa de um possível ataque português. Foi desarmada com a Regência e abandonada por ser considerada como de nenhuma importância.[19] Hoje em dia há pelo menos três canhões ingleses, do século XVIII, na praça em frente à igreja da cidade, devendo ser deste forte.

Bateria de S. Pedro do Pau Amargoso/Forte da Ilha de Manuel Gonçalves

Fortificação que é citada por Fausto de Souza como tendo sido feita na ilha Manuel Gonçalves em 1808,[20] o que certamente é incorreto, pois não aparece na Memória relativa à defesa do Rio Grande do Norte, daquele ano.[21] Situada na barra do Açu, a cerca de 180 km a noroeste de Natal, acreditamos que foi feita depois de dezembro 1818, quando a região foi atacada por um corsário inglês, que apresou cinco sumacas ali, sem que houvesse nenhuma reação militar[22] – sinal de que não havia um forte. Em 1829, a relação da artilharia dos fortes do Império menciona a existência de uma “bateria do Pau Amargoso”, armada com sete canhões,[23] e como a ilha ficava na barra do Amargoso, cremos se tratar da mesma posição. Neste caso, é notável a força da artilharia disponível no local, só inferior à da Fortaleza dos Reis Magos (ver).
A ilha de Manuel Gonçalves foi destruída pelo mar a partir de meados da década de 1820, mas o forte ainda era mencionado no relatório do Ministro da Guerra de 1846, como estando abandonado e desarmado por seu mal estado de conservação,[24] indicativo de que deve ter sido desarmado em 1831, na Regência, como a maioria das outras fortificações do País.




[1] LAET, op. cit. p. 423.
[2] OFÍCIO do Lopo Joaquim de Almeida Henriques sobre a pouca segurança que a Fortaleza dava à capitania e à Cidade de Natal, e a necessidade de se construir uma bateria com nove a doze canhões na "Ponta Negra", três léguas a norte (sic) da Barra do Potengi. Natal, 16 de março de 1803. Mss. Arquivo Ultramarino.
[3] id.
[4] ALBUQUERQUE, José Francisco de Paula Cavalcanti de. Memória relativa à defesa da capitania do Rio Grande do Norte. Revista do IHGB, Tomo XXVII, parte primeira, 1864. p. 246.
[5] MONTEIRO, Jônatas da Costa Rego. Relação dos fortes existentes no Brasil em 1829, com indicação do seu armamento. IN: Revista Militar Brasileira, jan.-jul. 1927. p. 218.
[6] BARRETO, João Paulo dos Santos. Relatório da Repartição dos Negócios da Guerra Apresentado à Assembléia Geral Legislativa na 3ª sessão da 6ª Legislatura pelo respectivo ministro e secretário de estado. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1846. Mapa n° 9 e RELAÇÃO (1863), op. cit.
[7] ALBUQUERQUE, op. cit. p. 246.
[8] MONTEIRO, op. cit. p. 218.
[9] ALBUQUERQUE, op. cit. p. 246.
[10] MONTEIRO, op. cit. p. 218.
[11] GARRIDO, Carlos. Fortificações do Brasil. IN: Subsídios para a História Marítima Brasileira. T. III. Rio de Janeiro, 1940. p. 326.
[12] ALBUQUERQUE, op. cit. p. 246.
[13] id. p. 246.
[14] MONTEIRO, op. cit. p. 218.
[15] FALA com que o Ex. Sr. Dr. João Capistrano Bandeira de Melo Filho abriu a 1ª sessão da vigésima legislatura da assembléia legislativa provincial do Rio Grande do Norte em 13 de julho de 1874. Rio de Janeiro: Tipografia Americana, 1874. p. 22
[16] SOUZA, Augusto Fausto de. Fortificações do Brasil. IN: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, vol. 48, parte II, 1885. p. 77.
[17] ALBUQUERQUE, op. cit. pp. 245-248.
[18] MONTEIRO, op. cit. p. 218.
[19] RELAÇÃO (1863), op. cit.
[20] SOUZA, op. cit. p. 77.
[21] ALBUQUERQUE, op. cit. p. 246.
[22] CARTA do Comandante do Degredo da Ilha de Manoel Gonçalves, Alexandre José Pereira, para o Capitão Manoel Varella Barca. Ilha de Manoel Gonçalves, 13 de Dezembro de 1818. Apud Corsários ingleses na Ilha de Manoel Gonçalves, 1818. http://trin­da­de­.­b­log­.­di­gi­.­com.­br­/­2011­/­04­/­19­/­cor­sa­rios-ingleses-na-ilha-de-ma­no­el-goncalves-1818/. Acesso em dezembro de 2011.
[23] MONTEIRO, op. cit. p. 218.
[24] BARRETO, op. cit.

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