9 de outubro de 2011

Grade de Programação, Arrecadação e Mercado Cultural.

Grade de Programação, Arrecadação e Mercado Cultural.

Uma colaboração para as discussões sobre programação das emissoras livres ou de baixa potência.

a) Grade de Programação

obs: Como parte dos objetivos e do desenvolvimento conceptual, prático, técnico e social de uma emissora de baixa potência Toda programação deve utilizar o máximo de equipamentos técnicos que estejam a disposição da emissora permitindo a experimentação e capacitação técnica de diversas pessoas. Dessa maneira pode-se desenvolver um sonoplasta, um locutor, um roteirista etc.

A programação da emissora deve ser bastante variada evitando preenche-la somente com "musicais", porem toda programação tem que ter música entre uma fala e outra, entre um quadro e outro, a não ser os programas jornalísticos. As notícias ou fala dos programas jornalísticos devem ocupar o tempo necessário para que uma informação não se transforme em um discurso e uma orientação encontre dificuldades de ser assimilada pelo ouvinte pelo tempo de exposição e a variação da temática sem interrupções. Intercalando-se uma fala da outra com música ou com pessoas de vozes diferentes, ainda que aborde a mesma notícia.

Inicialmente pode-se cobrir a falta de programadores com música, porém é necessário buscar programadores para que a emissora atenda a expectativa da população e a finalidade de um meio de comunicação de baixa potência e caracter local..

Dividindo o gosto musical, o interesse e o vocabulário em faixa etária pode-se organizar um programa que abranja a maioria da população. Pode-se, por exemplo, criar um programa para ser dirigido por jovens de até 16 anos.

1) Para um programa de jovens é preciso que os mais velhos não interfiram no gosto, devem, no entanto, interferir na disciplina e uso técnico do meio. Cabe orientar os jovens na busca de informações para rechear a programação. É costume dos jovens comportarem-se passivamente diante da música como se ela lhe desse satisfação plena. Portanto, além da música, esse programa deve abordar temas esportivos e de lazer ligados ao interesse dessa faixa etária. ( essa é uma maneira de selecionar os jovens para a elaboração da programação, porém não pode ser um valor restritivo e antecipado na avaliação, deve sim ser um dado a ser avaliado no decorrer dos trabalhos, observando-se os que demonstrarem interesse em buscar, pesquisar etc. ) ( sábados à tarde e domingos à tarde)

2) Os mitos folclóricos que povoavam as cidades e, principalmente, as áreas rurais sofreram uma modificação na sua interpretação devido o desenvolvimento da sociedade e as relações da sociedade através da mídia. Portanto o Saci Pererê e a mula sem cabeça vão sendo substituídos por novas interpretações desses fenômenos da imaginação. Novos símbolos e interpretações aparecem no cenário do imaginário popular fundido a informações de caráter científico. Um exemplo atual desse "sincretismo" é o mito do Chupa Cabras que vem associado à figura de extraterrestres.

Hoje um programa de rádio local pode ser idealizado a partir de propostas alternativas de trabalho. Um exemplo é o interesse que grande parte da população tem por temas ligados a Ufologia ou OVNIS. Com certeza essa discussão atende o interesse da grande maioria das pessoas ainda que subjetivamente. Um programa musicado com discussões, brincadeiras e informações sobre ETs e OVNIS vai trazer uma faixa de ouvintes interessantes para a emissora. E servir ao lazer e a criatividade da população.( programas dessa natureza devem ser realizado a partir das 22 horas nos dias de semana)

3) Um programa esportivo local tem boa resposta da população. O programa não deve ser feito a partir dos acontecimentos nacionais ou dos grandes clubes e atletas, mas sim dos atletas da cidade em que está situada a emissora e dos esportes ali praticados. Alguns esportes podem ser relacionados: skate, patins, bicicleta, marcha, bolinha de gude, motocross, vôlei de rua, enfim tudo o que exercita a competição na cidade ou na rua ou em uma esquina qualquer de um bairro qualquer. Isso chama a atenção do ouvinte e o identifica com a cidade, com a rádio. No campo os esportes podem estar relacionados à várzea, corrida de cavalo, campeonatos de truco, dominó e qualquer atividade que influencia a competição sadia. ( sábados a partir das 9 horas da manhã até as 18 horas)

4) Outro programa deve estar relacionado com a produção cultural local. Se for no interior pode-se fazer um programa com música sertaneja aos domingos de manhã para os compositores locais. Deve-se fazer também um programa com compositores locais que não estejam ligados a musica sertaneja nos domingos à tarde ou nos sábados à tarde. Esses programas devem ser dirigidos para os compositores e interpretes de músicas inéditas. O que for mostrado nos programas deve ser gravado em fita cassete para posterior utilização pela própria emissora. Assim a emissora ganha identidade e se aproxima da população local. ( domingos pela manhã entre 9 e 11 horas) Com uma somatória de fitas gravadas a emissora evita o uso indevido de material da industria fonográfica da grandes emissoras e evita ações judiciais por direitos autorais ou pressão de órgãos de arrecadação como o ECAD.

5) Outro programa deve ser feito com profissionais liberais como médicos, dentistas, advogados, enfermeiros, assistentes sociais, técnicos em agropecuária etc. Sempre abordando temas relativos a realidade do município o programa deve ser dirigido por um profissional liberal local desde que não seja político profissional ou candidato declarado. O programa não deve ser realizado para a crítica de serviços, mas para apontar problemas e orientações e até mesmo soluções. A crítica a indivíduos, políticos ou autoridades desvia o conteúdo e divide também os ouvintes. ( Esse programa pode ser feito no horário do almoço ou janta.)

6) Outro programa pode estar relacionado as questões da educação individual e meio ambiente. Falar sobre a natureza local, a fauna e a flora valorizando o meio ambiente, identificando as árvores, flores e frutos da região bem como os animais silvestres e a importância disso tudo no bem estar e na qualidade de vida. Discutindo e mostrando maneiras de fazer hortas, cultivos de alimentos em pequenos espaços instrumentalizando as pessoas para a auto-suficiência e para o prazer de cultivar e produzir além de apresentar novas técnicas de produção e criação. Esse programa é fundamental para integrar a realidade rural e urbana no contexto da emissora. Assim é possível passar endereços para que os interessados obtenham recursos e orientação técnica detalhada para o cultivo e criação nos órgãos específicos do município, da região, do Estado, do País ou até mesmo de entidades internacionais.( entremeado com música esse programa pode ser realizado em horários do café matinal, almoço ou jantar ou especificamente pelo domingo entre 6 e 8 horas da manhã.

7) As mulheres devem ter um programa especifico feito por elas para elas. A voz feminina é fundamental no rádio. Esse programa pode abordar problemas com a higiene e a saúde na maternidade e pós-parto além de outras noções de comportamento para as mulheres do campo e da cidade. Supõem-se que esse programa deve estar voltado para uma classe social despojada dessas informações, e desses recursos. Portanto é preciso que o programa tenha identidade com essas necessidade de forma que o fundamental é a preciosidade da informação e a simplicidade que ela é passada.. As mulheres podem tratar sobre a educação infantil, a saúde infantil etc. O horário desse programa deve combinar com o momento de preparação do almoço, janta etc..

8) Noticiários devem evitar somente a leitura dos grandes jornais ainda que locais pela defazagem da informação e pela redundância em informar o que já foi informado. Para tanto é necessário buscar a noticia através dos ouvintes utilizando as suas reclamações ou verificando em loco como condições de estrada de acesso, buracos de rua, bueiros, lixo, mosquitos, praças, materiais públicos danificados, transito, serviços locais, questões éticas e estéticas que envolvem o coletivo evitando sempre citar nomes de pessoas, para que o ser humano, ainda que praticante de um delito não caia em desgraça pública. A abordagem dos problemas deve se identificar com o material e não com o indivíduo. Fala-se do buraco na rua tal e não da prefeitura que não conserta o buraco na rua tal. Esse cuidado evita que a rádio se torne um objeto meramente político imediato dos responsáveis ou de interesse de um ou outro participante, coisa que o ouvinte percebe e acaba desacreditando. Aponte o problema e deixe que o ouvinte, por conta própria, identifique os responsáveis, ainda que subjetivamente. Essas informações devem estar misturadas com as regionais, estadual, nacional e internacionais.

b) Formas de Arrecadação

As formas de arrecadação de uma emissora são fundamentais para que ela se torne auto-suficiente e caminhe no sentido de sua independência. Para tanto é necessário organizar a arrecadação sob o ponto de vista da extensão participativa. Isso significa que torna-se importante estabelecer um teto para o volume de inserções de uma determinada empresa para que o fator econômico não se torne o elemento excludente ou preponderante de uma empresa sobre as demais situadas no município. O valor da inserção pode ser balizado a partir da realidade econômica do comercio, dos serviços e da industria local. Para tanto chega-se a noção de um valor possível para todos. Esse valor será dimensionado no número de inserções realizadas em um mês ou 30 dias. O valor deve estar entre R$0,50 ( cinqüenta centavos de Real) a R$0,75 ( setenta e cinco centavos de Real) por inserções de 30 segundos.. Pode-se estabelecer o teto de no máximo 10 chamadas diárias por empresa. Sendo assim, o teto de arrecadação por empresa se aproxima de R$150,00 mensais. Isso permite que uma outra empresa ou atividade possa realizar 2 inserções diária pagando apenas R$ 30,00 mês ou até menos dependendo da forma como ela pretende distribuir as inserções na programação da emissora. Pode-se criar um piso ou o mínimo para as inserções. Três, cinco ou dez reais dependendo sempre das características das atividades locais e da natureza da inserção.

INDUSTRIA DE PRODUÇÃO CULTURAL LOCAL

O dinheiro arrecadado por uma emissora de baixa potência livre ou comunitária e até mesmo as tradicionais devem ser revertidos para a compra de equipamentos de industrialização e reprodução da obra musical, poética ou cinematográfica local. Os grupos que participarem da emissora devem ter sua obra reproduzida industrialmente e, com a propaganda da emissora, atender aos consumidores locais. Essa atividade gera um circuito cultural próprio, um vida cultural expressiva valorizando a produção da comunidade e abrindo brechas no monopólio da industria cultural multinacional e transnacional. Com isso pode-se ampliar a atividade econômica com a especialização de indivíduos na promoção e venda do produto elaborado pela emissora local. Já existem no mercado gravadores de CD's e outros equipamentos que possibilitam a reprodução da obra artística. Como o mercado consumidor é local a reprodução da obra não necessita de grande quantidade ou rapidez . O equipamentos que existem no mercado atendem completamente essa expectativa. Dessa maneira as emissoras de baixa potência podem cumprir e até superar o que devia ser de responsabilidade das emissoras tradicionais. Essa emissoras tradicionais não realizam esses projetos porque seus proprietários não são empresários e sim senhorios e a programação de sua emissora feita por inquilinos que alugam os horários e que, por serem consumidores e não produtores, repetindo a programação dos mídias dos grandes centros.

Valionel Tomaz Pigatti ( Léo Tomaz)


Jornalista- Pós em Teoria da Comunicação
Ex-presidente-fundador da Associação das Rádios Livre do Estado de São Paulo (1991)
Coordenador da Casa de Cultura e da Rádio Livre Reversão. ( 1985-1988-1991-1994)


Via Chico Lobo

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