22 de maio de 2020

ARTE E PROTEÇÃO SOCIAL

ARTE E PROTEÇÃO SOCIAL
Por Fabiano dos Santos Piúba
O Povo: 22/06/2020

Um vídeo recente me tocou. Veio como uma pluma suave e se alojou em mim. O menino Otto cantando “Desde que o samba é samba”. Foi o próprio Caetano que compartilhou essa beleza. Ao final, Otto eleva suas mãos e diz: “Viva Caetano Veloso!”. Outra vez um arrepio passeia em meu corpo. Isso tem nome. Chama-se arte.

O samba que é pai do prazer e filho da dor com seu grande poder transformador – cantando eu mando a tristeza embora – é expressão artística e patrimônio cultural brasileiro. Portanto, quando Otto solta um viva Caetano, ele também brada: Viva a arte!

A arte é fator indispensável de humanização, componente vital para o desenvolvimento e formação humana. Além disso, é capaz de alcançar nossa alma, pois a arte nos anima. É a ânima do menino Otto que toca e se aloja na gente como uma inspiração para a vida. Daí que a arte e a cultura se constituem como direito humano.

Aliás, o filósofo Felix Guattari diz que deveríamos receitar poesia como se receitam vitaminas. Sendo assim, a arte é um meio de produção de saúde, sobretudo nesses tempos que correm. Ou seja, a criação estética, a experiência com as artes e a formação de repertórios culturais são fatores vitais que atuam em prol da saúde.

Mas, assim como ninguém vive sem arte, a arte não existe sem o artista. No contexto de isolamento social com os equipamentos públicos e privados fechados é necessária uma ação de proteção social para os trabalhadores das artes e da cultura, bem como para os espaços culturais da sociedade civil, que possa gerar renda e girar a economia criativa. 

Nesse sentido, é fundamental a aprovação pelo Congresso Nacional do Projeto de Lei da Emergência Cultural, o PL 1075, que dispõe sobre ações emergenciais destinadas ao setor cultural a serem adotadas durante o estado de calamidade pública no contexto do coronavírus. Este projeto – fruto de uma bela mobilização política e construção social – mais do que emergencial é estratégico para a política cultural no Brasil. É como se estivéssemos com o menino Otto, elevando os braços, dizendo Viva a Arte e viva quem produz artes e culturas no mundo.

Fabiano dos Santos Piúba.
Escritor, mestre em História, doutor em Educação e secretário da Cultura do Estado do Ceará

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