Mil
A velocidade do som,
Uma onda de pressão;
1.234 quilômetros por hora
A ultrapassarem uma barreira
Mil!
Um número, uma cifra.
Um estrondo.
Foi além, 1.179.
Uma
A cada 73 segundos.
17.971 desde a primeira;
A velocidade do horror, 17.971 em 63 dias.
Um
Menino.
Baleado, assassinado,
“os policiais saíram atirando”, escreveu um primo.
Mil!
Só havia crianças,
Deitadas no chão e com as mãos para cima.
Mil disparos.
Era um menino, quatorze anos.
Era eu.
Mil, eram tantos.
Eram eu.
Mil!
No mesmo dia, 1.179,
Quase a barreira do som.
Eram nós.
Uma marca, um espanto, um horror.
Um deboche, um descaso, um desprezo.
Um dia em um país em desamparo.
A morte, a destruidora de mundos, se fez um, se fez mil.
(Célio Turino, madrugada de 20 de maio de 2020)
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